amor é rascunho
palavra medicina
horizonte vivo
a linha do meu olho encontra
com a linha do seu corpo
essa periferia luminosa que faz o sol
e contorna
como um delicado sopro
a distancia entre tua pele e o ar
ondas não quebram
em alto mar
na tua respiração profunda
o desejo infinito de perdurar
a compreensão divina de existir
por fim Deus que possa pedir
deixa durar mais um pouco
nesse pouco de vida e ainda assim
água infinita
coisas que
escorrem
no corpo
no vento
no rosto
cair
de um abraço
alto
dentro do impossível
desejava que o amor não tivesse como seu oposto
a violência
sad mantra
we see porn
expecting see
love
(repeat 5x)
saudade transa
morder essa base
de caneta que você mordeu
tantas vezes e pousar
meus dentes com os teus
colar meu corpo no buraco
desse encontro dançar
com a lingua
a desenhar um céu
a desejar o seu
Das capacidades
te julguei incapaz de fatiar um coração
inocência a minha, coração
não é órgão que se põe à mão alheia
não se oferta,
coração é brilho que ofusca
sintila, invade, assusta
luz incansável de queda iminente
rimar é longe e brega
tivessem dito
a função da vida
chorar todos os dias
como quem rega um chão
o asfalto
chorar
organizar
dia após dia
o rompante das águas
sinfonia dos coros
do corpo
da mão
dos pratos
um chuveiro
tivessem dito
que crescer é envolver
dois litros e meio
ingerir
derramar
produzir
casca nos pés
saber andar
deserto a deserto
vida a vida
até que toda água seque
e então entender
secar
aguar
verbos
de saídas
pele de horizonte infinito
na paisagem vertical ser consumado
num trato digestivo mergulhado
corpo profundo de saberes finos
em cada célula respirar
sobreviver em hapinéia
no olho fundo do oco
encontrar o silêncio dos famintos
sozinhos e tristes
mal acompanhados
suados desejantes de vastidão
nas mãos alcançar o céu
esparramado, na ansia de tocar
alguma margem,
paraíso celeste de corações regalados
feitiço
.
amar a mão desconhecida
delírio de amor em carne hospedada
assombração que escorre de boca em boca
permanência sorrateira
sopro fantasma, a vista
descansar nem tente
amor par da loucura inevitável
olho vítreo incansável
amor vara de atenção
e isca animal dervixe
gira compulsiva, difundo morto
em mão gêmea a tua
movendo o cabelo igual ao teu
assombra meu pensamento
memória vil de passado
injusto futuro, não sei
Gymnophiona, Apoda
(para os íntimos)
a arte não é
meio de se criar
é gasto de energia
para se manter
o Instagram
a rua
a pista
dos espetáculos atualiza
dos gastos de energia
para sustentar
lembrança de uma imagem
que de fato é
o que você é
não te contaram?
a cara de pau
da cópia
tudo exatamente
e o tempo todo
você feito um rato
correndo atrás da roda
espera achando que criou
enquanto encontra
a copia da copia
cuidado
não se confie em copias
me disse
a assistente artificial inteligente
que pede desculpas
pois
só atualizada até 2021
mesmo assim ela sabe
separar Cecílias de serpentes
vc sabe?
os olhos faltam
já se perguntaram
por que deus criou um animal assim? sobre a falta uma integridade
troca aparentemente desleal
a partir de agora
só conselho daqueles
que o raio partiu
da vida os desejos
ainda assim obrigados
a seguir o design original
é de Eva
Adão ou da serpente?
réplicas
copias originais
primeira linha
o upgrade luxuoso
da existência
de uma imitação
de uma geração
cujo trabalho é ser
ao máximo
idênticosa
os originais
18 de fevereiro de 2024
T. Florêncio
para B. Trochmann
não há dor nesse amor
e por tanto não requer medicina
posso abandonar as palavras curativas
as feridas fecham com um banho de sol
mormaço que ama a luz como um abraço
de brisa em corpo quente
amar você como uma cabeça ama um travesseiro bom
compromisso e curtição, reiki e porções
sonhar com a força de uma criança
confiar na vida como um adulto
desconfiado, passível de tudo
metal quente que espera paciente que o assoprem
juntos abrir valas cheias de ar
vãos que premeditam rios de suor
aguas febris escorrem certeiras
e redesenham caminhos esquecidos de amar
você em todos os tempos, em todas as vidas
o destino já não nos singe e sua navalha falha
abre caminhos como córregos gritantes
que despertos fluem à galope
num percurso antigo até´você